segunda-feira, 18 de maio de 2009

Minha monografia- A importância da educação de valores humanos na escola

Introdução

Atualmente se observa que nas instituições educacionais ocorre uma supervalorização da formação de futuros profissionais. Os conteúdos, muitas vezes, são ensinados com uma essência unicamente técnica e distante do interesse dos alunos, deixando de lado a educação do ser integral, que também possui sentimentos e precisa desenvolver valores morais para atuar como bons cidadãos dentro da nossa sociedade.
No Brasil, o grande índice de violência urbana e de corrupção, mostra a necessidade de uma educação mais plena e humanista, que procure entender o aluno como um ser de caráter individual, que possui uma realidade social. Dessa forma o educador poderá se aproximar do educando e intervir de maneira que possa lhe atribuir valores que irá contribuir na sua formação.

“ A ética pode ser importante no estabelecimento de normas para o convívio social, a fim de impor limites ao egoísmo e à violência, tão profundamente arraigados na maneira de ser dos humanos.”(CATÃO, Francisco, pg.30)

Mas o que são valores humanos? Valores podem ser definidos como fundamentos que devem determinar as ações do homem na convivência social. Não necessitam de explicações maiores para existir, eles existem em si mesmos, pois, por exemplo, devemos ser solidários com os outros por que a solidariedade é um valor, assim como a honestidade, a humildade, a tolerância, e assim por diante. Os valores são universais.
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a real importância de uma educação escolar pautada nos princípios dos Valores Humanos, sendo abordado os seguintes temas:

Educação de valores e educação religiosa - diferenças e semelhanças
Possibilidades de como educar os valores na escola e prováveis resultados
Cidades Educadoras - Um programa de educação integral

No espaço social cheio de conflitos e maus exemplos que está dentro da realidade do aluno, é importante que pedagogos pensem mais na questão de desenvolver o lado humano e cidadão do seu educando, criando estruturas para que isso ocorra. Essa supervalorização na formação de profissionais bem sucedidos podem até formar pessoas críticas, mas não definem suas condutas para o bem ou para o mal. O homem pode utilizar sua capacidade intelectual para criar ou destruir. Por isso a importância de se desenvolver valores humanos dentro da escola.


1-Educação de valores e educação religiosa - diferenças e semelhanças

Quando se fala em valores humanos e éticos na educação, é comum se fazer uma ligação com ensino religioso. Isso acontece por que na história, houve um predomínio da Igreja sobre os vários setores sociais, inclusive a educação, o que deixa seus vestígios ainda na atualidade. “Essa maneira de entender a educação ética como componente da educação religiosa acabou prevalecendo no cristianismo e se cristalizou no inicio da era moderna...” (CATÃO, Francisco, pg. 26). Isso está tão enraizado que quando uma mãe pretende uma educação integral para o seu filho, por exemplo, procura de preferência uma instituição religiosa, para educar com valores humanos e éticos. Mas uma educação ética autônoma é diferente de uma educação ética religiosa cristã, apesar de haver também convergências.
Na educação ética cristã, os valores são apreendidos e exercidos, algumas vezes para uma transformação do interior do indivíduo afim da sua evolução espiritual, outras vezes para agradar a Deus ou mesmo por temor a ele. Neste último caso, apreender valores por medo, é insuficiente por que o indivíduo apenas age de acordo com alguns princípios por que se sente oprimido, perdendo sua autonomia. Ele age segundo os valores que apreende da sua religião por que teme a Deus, o que não significa uma real transformação interna.
A educação ética autônoma é a apreensão dos valores humanos para transformação do indivíduo e consequentemente para transformação social, baseados no próprio desejo da justiça, da paz, e do respeito na sociedade. Não se trata de negar a religiosidade, já que a própria religiosidade pode ser um complemento para que essa transformação ocorra, mas trata-se de respeitar diversidade de crenças, o que por sua vez faz parte dos valores humanos. Não se trata também de negar a importância das instituições religiosas de ensino, como as Escolas adventistas, católicas, ou espíritas, já que existem grupos sociais que preferem que a educação de seus filhos ocorra em uma linhagem religiosa específica. Trata-se de trazer a educação de valores morais e éticos também para escolas laicas, sejam elas públicas ou particulares, desvinculado esses princípios da religiosidade, como não estamos acostumados a fazer.


2- Possibilidades de como educar os valores na escola e prováveis resultados

Educar valores na escola não é tarefa fácil. Implica enfrentar complexibilidades de situações variadas. Há casos, por exemplo, em que a questão da segurança e do valor entram em conflito na escola, como o modelo a seguir dado por Klébis (Klébis e Menin, 2000, p. 36) :
“Uma determinada escola pública recebeu a denúncia que alguns alunos estariam levando "droga" para ser distribuída dentro da escola. A diretora comunicou o fato à Polícia Militar que determinou a averiguação da denúncia imediatamente. Justamente neste dia, uma 5ª série estava em aula vaga no pátio devido à falta de um professor. Eram alunos cuja faixa etária se concentrava entre 10 a 12 anos. Com a chegada da Polícia Militar na escola, a Diretora solicitou à inspetora de alunos que chamasse os meninos para a sala de vídeo, dizendo aos mesmos que eles iriam assistir a uma projeção. Em hipótese alguma os alunos deve-riam saber que os policiais estavam na escola. Na sala de vídeo, os alunos foram submetidos a uma revista pelos policiais, ficando apenas de cuecas. Como se não bastasse, passaram pelo constrangimento de terem que abaixar a cueca, ficando de cócoras (procedimento usado nos presídios para detectar a presença de droga no ânus). A Diretora argumentou, em resposta à revolta dos pais, que sua intenção era a de proteger os alunos contra as drogas que poderiam estar circulando pela escola, bem como descobrir os culpados”.
Este exemplo mostra um dilema moral que em busca da segurança dos alunos, a diretora utilizou de estratégias que envolveram toda uma situação de constrangimento e de revolta dos pais, achando ela que tinha certeza que aquela era a coisa certa a se fazer. Mas ela não pensou na questão da autonomia dos alunos. Eles foram forçados a passar por uma situação constrangedora que poderia também ser resolvida de outra forma: passar a informação para as crianças sobre os malefícios que a drogas propiciam e auxilia-las a decidirem por si mesmas a se protegerem dos riscos que as drogas podem causar. Essa forma traria resultados prolongados, e eficazes ao contrário da ação imediata realizada pela diretora, que poderia causar até revolta e reação contrária ao desejado por ela nos alunos. Esta é uma possibilidade entre outras que poderiam surgir.
Então fica uma questão: Que outras possibilidades se poderia citar para que a escola eduque o valor e a ética nos alunos? A resposta é: infinitas, já que as situações são imprevisíveis. Por isso o professor deve estar preparado para enfrentar as diversas situações que surgir, dando o exemplo através da ação. Ação esta, que deve também estar pautada nos próprios valores como os de justiça e respeito.
Nos exemplos a seguir, temos três exemplos interações professor-aluno, de salas de aula no jardim de infância de escolas públicas, tiradas de gravações em vídeos, envolvendo dois dias em cada classe. A primeira classe parece um “campo de treinamento de recrutas”, onde a professora é o sargento:
“Ouçam, minha paciência não vai durar muito com vocês hoje. Sente-se (gritando e apontando seu dedo para uma criança)! Três, 6, vamos (enquanto a professora bate palmas uma vez para cada número, tanto ela quanto as crianças recitam em uníssono). Três, 6,9,12,15,18,214,24,27,30. Múltiplos de 5 até 100. Vamos...” ( DEVRIES, Retha; ZAN, Betty, pp. 18).
Nesta sala as crianças não possuem nenhum autocontrole autônomo, pois a professora controla totalmente o aluno, lhes diz o que fazer e o que devem pensar. Além disso, elas não podem se relacionar socialmente na sala, umas com as outras, tem que ficar o tempo todo em silencio e quietas nas carteiras. Suas idas ao banheiro têm horários estabelecidos. O recreio é privado pelo “mau comportamento”. O estresse desta sala de aula contribui para que as crianças se agridam mais umas com as outras do que qualquer outra sala de aula.
A segunda classe, a professora é uma mentora amistosa, onde os alunos são ouvidos e sentem-se à vontade.
“A mãe de M traria nosso lanche hoje, mas ela não chegou aqui a tempo e então ficou para amanhã. A única coisa que temos para comer aqui são algumas caixinhas de passas de uva. Nosso problema é que não temos o suficiente para darmos para cada pessoa uma caixa inteira. (M levanta a mão). M tem uma idéia. O que devemos fazer, M? (M sugere que abram as caixas e distribuam as passas em pratos) Essa é uma boa idéia.Se todos tivessem um prato, quantos pratos precisaríamos (sorri, na expectativa)? (E diz que 17, mas L chama a atenção para o adulto que está filmando (B), para N ( que preferiu não participar do grupo) e para as duas crianças que estão dormindo e não foram contadas)...” ( DEVRIES, Retha; ZAN, Betty, pp. 19).
Nesta sala, os alunos têm autonomia, a professora ouve as sugestões deles, respeita suas idéias, auxilia para que os próprios alunos construam suas regras, sustenta o valor da justiça, a ida no banheiro não tem horário estabelecido, e os conflitos são oportunidades das crianças refletirem sobre a opinião do outro. O afeto na sala é uma constante.
A terceira classe, a professora parece uma gerente que guia qual deve ser as ações dos alunos, em um tom calmo e sério:
“Vamos colocar um zíper aqui (faz um movimento de fechar um zíper em sua boca) por que precisamos olhar e prestar atenção. Aqueles que desejam aprender, sentem-se e escutem. Se vocês querem brincar, terão de fazer isso depois, OK? E, sente-se. ( A criança pede para beber água ). Não, sinto muito, estamos esperando que você se sente...” ( DEVRIES, Retha; ZAN, Betty, pp. 19).
Nesta sala, os alunos possuem pouca autonomia, e o ambiente da sala é relativamente relaxado. A professora possui uma relação impessoal com seus alunos e sua vontade prevalece. Quando há discussões entre os alunos, a professora não tenta solucionar o problema com justiça, passando por cima dos sentimentos da vítima. As crianças não possuem auto-confiança.
Podemos perceber nesses exemplos, interações diferentes entre professor-aluno e aluno-aluno e os resultados que essas ações proporcionam. O segundo exemplo é o único que obedece ao ideal de uma classe com um bom ambiente sócio-moral.

4- Cidades Educadoras - Um programa de educação integral

Existem atualmente algumas instituições e organizações educacionais que têm como principal objetivo a educação integral do ser humano, provando a possibilidade de se trabalhar os valores do homem e servindo de exemplo para outras instituições. Algumas pertencem a um determinado país, estado, cidade ou município e outras tentam abranger todo o planeta.
Em Barcelona, no ano de 1990, no I Congresso Internacional de Cidades Educadoras, iniciou-se o movimento das Cidades Educadoras que deu origem, em 1994, à Associação Internacional das Cidades Educadoras (AICE). Esse programa, apesar de possuir o objetivo de abrangência internacional da sua idéia, funciona dentro da cidade associada ao programa. Em outubro de 2004 já faziam parte da AICE 293 cidades de 33 países.
O AICE, é uma associação onde tem como objetivo, fazer funcionar a idéia do programa Cidades Educadoras, ou seja, cidades que usem, com a ajuda de vários segmentos sociais, com a comunidade local, as instituições e as entidades particularmente educativas, usem a sua capacidade de educar formal, informal e não formalmente o seu cidadão, principalmente crianças e jovens, independente de classe, ou gênero. Cada cidade educa segundo suas características culturais, usando suas potencialidades educacionais, seguindo os princípios da Cidade Educadora, definido na Carta das Cidades Educadoras. Esta carta fundamenta-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948); no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); na Declaração Mundial da Educação para Todos (1990); na Convenção nascida da Cúpula Mundial para a Infância (1990) e na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2001).
O projeto possui três funções pilares: o desenvolvimento da Cultura, da Educação e da Ação Social. Como um exemplo, na cidade de Braga, associada das Cidades Educadoras, já foi registrada:

“... a emergência e o desenvolvimento de programas de educação ambiental em colaboração com empresas públicas municipais e as campanhas de sensibilização da população, a promoção de actividades englobadoras de centros de interesse de associações locais e de animação de rua, o apoio a iniciativas locais (algumas delas de alcance nacional), a disponibilização de espaços para sede e funcionamento de associações e comissões diversas, a criação de parques e espaços de lazer, as iniciativas de ocupação e mobilização das crianças em períodos de férias escolares, a criação e dinamização de espaços culturais municipais e de espaços e programas pedagógicos, a evolução da política de remoção de barreiras arquitectónicas nas ruas e edifícios de acesso público, os programas de recuperação do centro histórico e de criação e alargamento da zona pedonal, a oferta de programas e roteiros de “visita guiada” a Braga monumental e histórica, as medidas de prevenção e segurança e a coordenação dos bombeiros sapadores e da polícia municipal, a evolução das políticas de alojamento das pessoas com menores recursos económicos, a política de articulação da rede e horários dos transportes públicos com a rede e horários dos estabelecimentos de educação e ensino, a articulação da política de crescimento urbano e de expansão dos equipamentos escolares.”(MACHADO, Joaquim: Actas dos ateliers do Vº Congresso Português de Sociologia, pp. 87)


Pode-se perceber através das ações realizada em Braga uma grande mobilização de estruturas sociais e ações de caráter cultural, o que é importante para a formação da identidade do cidadão dentro da sua cultura, mas ainda não cita a educação dos valores humanos como um dos objetivos do programa. Mas alguns dos princípios da Carta das Cidades Educadoras, mostram que a educação de valores também é uma das finalidades do programa:

-9-

“A cidade educadora deverá fomentar a participação cidadã a partir de uma perspectiva crítica e co-responsável. Para tanto, o governo local deverá oferecer a informação necessária e promover, transversalmente, orientações e atividades de formação em valores éticos e de cidadania.
Deverá estimular, ao mesmo tempo, a participação cidadã no projeto coletivo, a partir das instituições e das organizações civis e sociais, levando em consideração iniciativas privadas e outras formas de participação espontânea.” (Carta das Cidades Educadoras, pg. 6).

-10-

“O governo municipal deverá dotar a cidade de espaços, equipamentos e serviços públicos adequados ao desenvolvimento pessoal, social, moral e cultural de todos seus habitantes, com especial atenção à infância e à juventude”. (Carta das Cidades Educadoras, pg.7).

-20-

“A cidade educadora deverá oferecer a todos seus habitantes, como objetivo cada vez mais necessário à comunidade, formação a respeito de valores e práticas de cidadania democrática: o respeito, a tolerância, a participação, a responsabilidade e o interesse pela coisa pública, por seus programas, seus bens e seus serviços”. (Carta das Cidades Educadoras, pg. 9).

O principio 9 deixa claro que para que haja uma participação responsável e crítica dos cidadãos no programa, é necessário um educação de valores. O 8º principio já prioriza os espaços equipamentos e serviços públicos para que todos os habitantes, principalmente crianças e jovens, tenham um desenvolvimento integral (pessoal, social, moral e cultural). Já o principio 20 mostra que o programa deverá oferecer para a população a formação dos valores humanos para a prática da cidadania, que segundo a carta, se faz cada vez mais necessário para comunidade.
Através do exemplo desse programa, podemos perceber que a formação integral, se faz necessário na educação. Não se deve ensinar apenas o necessário para “passar no vestibular”, e nem somente o ensino de valores. Deve haver o equilíbrio entre ambos, além da valorização da cultura em que o individuo está inserido, para que se forme também a sua identidade cultural, importante para a sua compreensão e atuação na sociedade.

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